A história de
Tom-tom
Tom-Tom tem 5 anos e
chega desesperado todos os dias. Bate num, chuta outro, empurra a mesa, chora
desamparado quando por fim recebe um soco – de algum maior – de volta. Nas
primeiras semanas de trabalho, para poder controlá-lo, tive que andar de mãos
dadas com o Tom-Tom e, na maioria das vezes, com ele nos braços: encangado na
cintura.
– Tom-Tom, vem cá.
Você agora é meu boneco Fom-Fom. Toda vez que você vier para o meu colo você
vai virar meu boneco. E o meu boneco vai me ajudar! Logo você, que eu sei que
sabe fazer tantas coisas! Vamos, vem logo! E, veloz como um macaco, subia,
encangava na cintura. No meu colo, ele dava papel para as outras crianças, dava
lápis, agradava meu cabelo... E às vezes brigava mesmo lá de cima!
– Tom-Tom, você
esqueceu que você aqui (no colo) é o meu boneco Fom-Fom?! No ato parava. E
continuava me ajudando. Só no colo, junto do afeto, Tom-Tom acalmava. Foi
vivendo este outro lado bom, do boneco que era querido, que ajudava a mim e aos
outros, que Tom-Tom foi descobrindo um outro jeito de ser. Ao mesmo tempo,
explorei de tudo que fazia para mostrar-lhe que podia virar outra coisa.
Enquanto amassava todas as folhas de papel que encontrava, propus- lhe que
fizéssemos bolas de vários tamanhos para seriarmos depois.
De tudo que destruía
eu transformava numa atividade construtiva. Com o grupo procurei atiçar a
descoberta do Tom-Tom trabalhador, cooperativo, chamando atenção para a sua
força enquanto carregava uma das nossas pilhas de tijolos da casinha. Também
trabalhei com os pais no sentido de verem o outro Tom- Tom (o pai foi um dia
conversar comigo para dizer-me que, se precisasse, podia dar uns tapas no Tom),
e em todas as ocasiões que Tom-Tom conseguia produzir, trabalhar, mandei bilhetes
salientando o que havia conquistado.
Certo dia, na hora do
pneu, gritos chamando por mim, corro. Chego e deparo com Tom-Tom com um caco de
vidro na mão pronto para atirá-lo numa das crianças. Perco a cabeça e grito!
– Tom-Tom!! Jogue já
esse vidro no chão ou senão pode ir embora e não volta mais nesta escola!
Parado com o braço
levantado, o vidro na mão, pensando, parecia que via um vídeo-tape de sua vida
conosco. Momento de dúvida, de avaliação. E, de repente, num gesto brusco,
rápido, jogou o vidro no chão.
Abracei-o, carreguei-o
no colo, gritei para todo o mundo:
– Tom-Tom vai ficar
nessa escola! Trabalhar nessa escola, ficar com a gente!
Ele, rindo, abraçado,
encangado na cintura, brilhando pelo salão...
Tom-Tom optou por nós.
Madalena Freire
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