quarta-feira, 16 de maio de 2012

Estudos de caso

Estamos iniciando na JEIF algumas atividades de estudo de casos de alunos com problemas de relacionamento e aprendizagem. O texto de Madalena Freire trazido pela CP Milena no dia 15/05 ilustra esse perfil de aluno que encontramos em muitas salas de aula.


A história de Tom-tom
Tom-Tom tem 5 anos e chega desesperado todos os dias. Bate num, chuta outro, empurra a mesa, chora desamparado quando por fim recebe um soco – de algum maior – de volta. Nas primeiras semanas de trabalho, para poder controlá-lo, tive que andar de mãos dadas com o Tom-Tom e, na maioria das vezes, com ele nos braços: encangado na cintura.
– Tom-Tom, vem cá. Você agora é meu boneco Fom-Fom. Toda vez que você vier para o meu colo você vai virar meu boneco. E o meu boneco vai me ajudar! Logo você, que eu sei que sabe fazer tantas coisas! Vamos, vem logo! E, veloz como um macaco, subia, encangava na cintura. No meu colo, ele dava papel para as outras crianças, dava lápis, agradava meu cabelo... E às vezes brigava mesmo lá de cima!
– Tom-Tom, você esqueceu que você aqui (no colo) é o meu boneco Fom-Fom?! No ato parava. E continuava me ajudando. Só no colo, junto do afeto, Tom-Tom acalmava. Foi vivendo este outro lado bom, do boneco que era querido, que ajudava a mim e aos outros, que Tom-Tom foi descobrindo um outro jeito de ser. Ao mesmo tempo, explorei de tudo que fazia para mostrar-lhe que podia virar outra coisa. Enquanto amassava todas as folhas de papel que encontrava, propus- lhe que fizéssemos bolas de vários tamanhos para seriarmos depois.
De tudo que destruía eu transformava numa atividade construtiva. Com o grupo procurei atiçar a descoberta do Tom-Tom trabalhador, cooperativo, chamando atenção para a sua força enquanto carregava uma das nossas pilhas de tijolos da casinha. Também trabalhei com os pais no sentido de verem o outro Tom- Tom (o pai foi um dia conversar comigo para dizer-me que, se precisasse, podia dar uns tapas no Tom), e em todas as ocasiões que Tom-Tom conseguia produzir, trabalhar, mandei bilhetes salientando o que havia conquistado.
Certo dia, na hora do pneu, gritos chamando por mim, corro. Chego e deparo com Tom-Tom com um caco de vidro na mão pronto para atirá-lo numa das crianças. Perco a cabeça e grito!
– Tom-Tom!! Jogue já esse vidro no chão ou senão pode ir embora e não volta mais nesta escola!
Parado com o braço levantado, o vidro na mão, pensando, parecia que via um vídeo-tape de sua vida conosco. Momento de dúvida, de avaliação. E, de repente, num gesto brusco, rápido, jogou o vidro no chão.
Abracei-o, carreguei-o no colo, gritei para todo o mundo:
– Tom-Tom vai ficar nessa escola! Trabalhar nessa escola, ficar com a gente!
Ele, rindo, abraçado, encangado na cintura, brilhando pelo salão...
Tom-Tom optou por nós.
Madalena Freire



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